FÁBULA –O MUNDO TAL COMO NOS FAZEM CRER.

Luciana dos Santos Alcântara da Hora

Milton Santos (1926-2001) Bacharel em Direito, Universidade Federal da Bahia (1948), Doutor em Geografia Universidade de Strasbourg (1958), sob orientação do Prof. Jean Tricart1948-1964. Um pesquisador implicado na realidade local Até 1964, ano em que deixa o Brasil em razão do golpe militar ele conduz paralelamente uma carreira acadêmica e atividades públicas. Jornalista e redator do jornal A Tarde (1954-1964), professor de geografia humana na Universidade Católica de Salvador (1956-1960), professor catedrático de geografia humana na Universidade Federal da Bahia onde cria o Laboratório de Geociências, será diretor da Imprensa Oficial da Bahia (1959-1961), presidente da Fundação Comissão de Planejamento Econômico do Estado da Bahia (1962-1964), e representante da Casa Civil do presidente Jânio Quadros na Bahia, em 1961. Suas pesquisas e publicações da época focalizam as realidades locais, principalmente a capital– a tese de doutorado é intitulada O Centro da Cidade de Salvador – assim como as cidades e a região do Recôncavo. Em 1964, começa uma carreira internacional imposta pela situação política no Brasil. Primeiro na França, professor convidado nas universidades de Toulouse, Bordeaux e Paris-Sorbonne, e no IEDES (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Econômico e Social). De 1971 a 1977, inicia uma carreira verdadeiramente itinerante, ao sabor dos convites: no MIT (Massachusetts Institute of Technology – Boston) como pesquisador; e como professor convidado nas universidades de Toronto (Canadá), Caracas (Venezuela), Dar-es-Salam (Tanzânia), Columbia University (New York). Esse período abre uma longa caminhada em direção a teorização em Geografia, com o intenso aproveitamento das ricas bibliotecas das grandes universidades.

Em 1977, retorna ao Brasil. Passam-se dois anos antes de conseguir voltar a ensinar na universidade brasileira, primeiro na Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 1979 a 1983, ano em que ingressa por concurso na Universidade de São Paulo, professor titular de geografia humana até a aposentadoria compulsória, recebendo o título de Professor Emérito da USP em 1997 e continuando a pesquisar, publicar e orientar estudantes até o final de sua vida. Será reintegrado oficialmente à Universidade Federal da Bahia em 1995, da qual tinha sido demitido por “ausência”. Doze universidades brasileiras e sete universidades estrangeiras lhe outorgaram o título de Doutor Honoris Causa.

Em 1994, recebe o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud. Nesta última fase de seu percurso, publica Por uma Geografia Nova, da crítica da geografia a uma geografia crítica (1978), contribuição à efervescência e ânsia de renovação dessa ciência no Brasil. O espaço é definido como uma instancia social ativa, a noção de formação sócio-espacial introduzida. As pesquisas, as aulas e as publicações resultantes tencionam um esforço epistemológico para dotar a geografia latino-americana de categorias de análise apropriadas. Em 2000, publica Por uma outra globalização, do pensamento único à consciência universal. Record, Rio de Janeiro, 2000. (4º edição: 2000).

  O livro vem da convicção do papel da ideologia na produção, disseminação, reprodução e movimentação da globalização atual. Então e necessário observar seus princípios fundamentais, mostrando a sua fraqueza e força. O mesmo encontra-se dividido em seis partes que mostra como surgiu o processo da produção da globalização. Explica por que a globalização atual é perversa, baseada no poder da informação e do dinheiro, na competitividade, na violência estrutural e na confusão dos espíritos. Mostra a economia contemporânea e os descaminhos do raciocínio dominante, a emergência de novas varáveis centrais e o papel dos pobres na realização do presente e do futuro.

Num mundo confuso é determinado aos espíritos um conjuntos de fabulações que se acrescenta aos contextos para confirmar uma única ideia. Segundo o autor existem três mundos em um só: a globalização como fábula; o mundo tal como ele é; e mundo como ele pode ser.

O mesmo diz que com a unidade da técnica da informação que antes era em pequena proporção agora alcança totalidade do país tornando mais eficaz o comercio, e fortalecendo o consumo. Possibilita também a oportunidade de ter nas mãos o conhecimento da vida do outro, um sistema caracteristicamente invasor.

O motor único é um conjunto de técnicas implantadas sobre um planeta sugerindo ações globais iguais. A disputa entre empresas contribui para a mais-valia mundial, tornando-se efêmera, pois deixa o mundo da competição e entra no da competitividade. A disputa aumenta a briga entre as empresas, e as direciona ao período maior de mais ciências mais tecnologia, melhor organização, para estar sempre à frente.

Cognoscibilidade do planeta é o conhecimento profundo do planeta e isso se deu através dos avanços tecnológicos e cientifico. E daí veio o sentido real das coisas, e o entendimento de tudo que existe. A violência da informação. O que é transmitida é uma informação dominadora que deveria explicar, complica. O que é muito sério, pois nos dias atuais na vida da humanidade tornou-se importantíssimo para os cidadãos  as informações sobre fatores econômico e social. Entretanto se apresenta com um discurso, quando na realidade é outro. Um publicidade que busca instruir superficialmente no qual o seu principal objetivo é convencer.

O mundo da fábula se apresenta com conscientizador do indivíduo no que diz respeito aos seus direitos e deveres e até a sua concepção de certo ou errado, o discurso de tanto se repetir acaba firmando-se como verdade. Se o dinheiro em seu estado puro tornou-se tirano devido que tudo tem um valor de troca. Então a presença do mesmo em todo mundo contribuiu para o surgimento de um dado ameaçador da nossa existência.

As percepções fragmentadas e o discurso único do mundo. Para o homem comum a técnica aparece misteriosa e banal. Desta forma ela é aceita e não entendida. E tudo gira em torno dela, então se mostra indispensável, inquestionável, composta de tamanha força que é aceita sem compreendê-la.

Na globalização a competitividade tem a guerra como lema, buscando a todo custo e sem compaixão alcançar uma posição sem se importar com o outro, enquanto a competição é saudável pois pessoas ou empresas buscam alcançar seus objetivos sem anular o outro.

Essa guerra como norma justifica toda forma de apelo à força, a que assistimos em diversos países, um apelo não dissimulado, utilizando para dirimir os conflitos e consequências dessa ética da competitividade que caracteriza nosso tempo. Ora, isso também que justifica o individualismo arrebatadores e possessivos: individualismo na vida econômica (as maneira como a s empresas batalha uma com as outras); individualismo na ordem da política (a maneira como os partidos frequentemente abandonam a ideia de política para se tornarem simplesmente eleitoreiros); individualismo na ordem do território (as cidades brigando umas com as outras, as regiões reclamando soluções particularistas). Também na ordem social e individual são individualismos arrebatadores e possessivos, que acabam por constituir o outro como coisa. Comportamento que justificam todo desrespeito às pessoas são, afinal uma das bases da sociedade atual, (Milton Santos, 2011, ps. 46 e 47).

O dinheiro em sociedade consumista pode ser a causa ou a consequência do enriquecimento de muitos, pois criou-se um círculo viscoso em torno do mesmo, é essa a concepção de riqueza e prosperidade.

A perversidade sistêmica, pois na atualidade a fome é isolada, generalizada e permanente. O desemprego é comum. A educação de qualidade quase que não existe, assim como terminar com o analfabetismo. A pobreza cresce. Nesta visão perversa as distorções da personalidade se faz necessário para se firmar. O outro, ou seja empresa, instituição ou individuo, é visto como um obstáculo para suas concretizações e desta forma tem que ser removido do caminho, pois é considera como coisa.

O Estado se mostra menor nos discursos que ouvimos, atualmente, porém sua base essencial é o fato que os condutores da globalização precisam de um Estado flexível a seus interesses. As privatizações estatais são a mostra d que o capital tem sido o consumidor e exige muito mais. O mesmo não tem recurso para o social, todavia empresta recursos as empresas estatais, candidatas a compra do capital social nacional.

Observa-se a partir disso que o estado não é menor. Ele apena se omite em relação aos interesses das populações, se tornando forte e rápido, mais presente, ao serviço da economia dominante. A técnica se apresenta a serviço do capitalismo, se não houvesse o avanço das ideias, teríamos um surgimento maior do utilitarismo, com um prática dominadora do lucro e da concorrência.

A globalização anula a concepção de um direito comum, traz a noção primitiva de cada um por si, como se fossemos animais selvagens, reduzindo o conceito de moralidade pública e particular a quase nada.

Atualmente percebe-se um casamento entre a ciência e a técnica, essa tecnociência, que determinado pelo mercado. Sendo assim, tornou-se uma técnica e uma ciência seletiva. Consequentemente a ciência produz aquilo que é importante ao mercado, e não à humanidade em geral.

A nova posição, que foi citada, vai fundamentar-se em duas colunas centrais. Uma sustentada no dinheiro e a outra se consolidada na informação. Em cada país, principalmente entre os mais pobres, a informação e o dinheiro mundializado terminam por si impor como algo autônomo em face a sociedade e, mesmo, da economia, tornou-se um componente decisivo da produção e por conseguinte da geopolítica.

Enfim a mudanças são necessárias para melhoramento ou aperfeiçoamento do que já existe, porém é essencial que nós como verdadeiros cidadãos pensemos a existência do capitalismo, pois este é alicerce da globalização. A globalização não é irreversível, pois podemos mudar o sistema atual a partir do conhecimento, e criar uma nova globalização que tenha a concepção do direito comum, moralidade pública e particular e que a ciência e suas técnicas se proponha a realizar o que é importante à humanidade, diminuindo a competitividade, a desigualdade, aumentar a solidariedade, e assim surgirá um novo planeta.

Recomendo a leitura do mesmo, pois acrescenta conhecimento, muda a visão no que diz respeito a globalização atual. E como futuro geografo a partir desta e outras obras, poderemos pontuar os pontos positivos e negativos do sistema atual do que nos é imposto, e assim nos posicionar de forma crítica e possivelmente mudar esta situação.

Referencia:

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 20ª ed.- Rio de Janeiro: Record, 2011.

2 ideias sobre “FÁBULA –O MUNDO TAL COMO NOS FAZEM CRER.

  1. Eu

    Desenvolveu bem a análise de alguns pontos da obra, mostrando seu entendimento sobre o assunto, característica básica de um Geógrafo, cuidado apenas com alguns erros de ortografia, resenha bem apresentável ao público destinado.

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